“O Papalagui quer arrastar-nos para as suas trevas”

O chefe da tribo de tiavéa, Tuiavii, afirma que foi o Papalagui que lhes trouxe a luz de que precisavam, pois viviam em plena escuridão, ou seja, levou-os até Deus ensinando-os a amá-lo, “ O missionário do Papalagui ensinou-nos, em primeiro lugar, o que é Deus; desviou-nos dos nossos antigos deuses (…) “, “ (…) tirar-nos todos os canos de fogo e demais armas a fim de vivermos em paz uns com os outros, como bons cristãos (…) “.
Papalagui recebeu a luz de Deus muito antes de Tuiavii mas, “ (…) o Papalagui limita-se a empunhar a luz, a estende o braço para alumiar os outros, pois que ele próprio, ou seja, o seu corpo, continua nas trevas. Muito embora a sua boca proclame o nome de Deus e as suas mãos arvorem a luz, o seu coração vive longe de Deus. “. Portanto, Papalagui não segue a palavra e o caminho que Deus lhe diz, Tuiavii diz-nos que apesar de Papalagui lhes ter trazido a luz de que precisavam, não vão cair nas trevas dele, pois trouxe a palavra de Deus, mas não entende e não cumpre os seus mandamentos e preceitos. “ A boca e a cabeça compreenderam, mas não assim o corpo. A luz não conseguiu penetrá-lo nem reflectir-se nele (…) “.
A palavra de Deus é estranha para Papalagui e Deus “ (…) continua a ser-lhes estranho (…) “. Tuiavii critica, o facto de o Papalagui dizer-se cristão, pois “ Ser cristão quer dizer: amar, acima de tudo, Deus Todo-Poderoso, amar os nossos irmãos e só depois amarmo-nos a nós próprios. “. As palavras “Cristão”, “Deus”, “Amor” estão na boca de Papalagui, mas todas elas tropeçam na língua dele.
Com tudo isto, Papalagui trata Tuiavii como selvagem, mas esquece-se de que na Europa é onde se degolam uns aos outros, é onde os Papalaguis se tornam loucos varridos. Contudo, “Que Deus nos ajude a não nos deixarmos ofuscar pela sua luz a pontos de nos perdermos no caminho; antes ilumine todas as veredas, de modo a podermos caminhar banhados por essa maravilhosa luz, e assim nos amarmos uns aos outros, e assim fazermos muitas talofas (actos de amor) nos nossos corações! “.

Tagaloa

“A grave doença de estar sempre a pensar”

Papalagui é um ser que pensa exageradamente, “ (…) ele próprio é objecto dos seus pensamentos (…) ”. Segundo Tuiavii, pensar para Papalagui já se torna numa necessidade, num hábito, por isso, pensa continuamente, não conseguindo assim, aproveitar as coisas boas que a vida nos dá no nosso quotidiano, “ Na maior parte do tempo vive apenas com a cabeça, enquanto os sentidos dormem um profundo sono. “.
Este ser pensador, se pensa em coisas alegres, não sorri e, se pensa em coisas tristes, não chora. Papalagui é um ser dominado entre os seus sentidos e o seu espírito, estando dividido em dois.
Tuiavii diz-nos que quando se pergunta ao Papalagui “Porque é que pensas assim tanto” ele tem como resposta “Para não ficar estúpido”, ou seja, um Papalagui que não pense é considerado “ valéa ” (estúpido).
O pensamento é algo que faz o homem se desviar do seu caminho. Os pensamentos, quer sejam bons ou maus são imediatamente projectados sobre “ (…) finas esteiras brancas (…) ”, isto é, a impressão dos pensamentos. Depois, de os Papalaguis comprimirem as várias esteiras brancas, formam-se os pequenos maços, a que chamamos de livros e, “ (…) Quem absorver esses pensamentos ficará imediatamente contaminado (…) “.
Portanto, para quem não pensa, será bom começar a pensar como Papalagui? “ Não! “. Com tudo isto, Papalagui só nos prova, que não devemos roubar tempo da nossa vida a pensar e, devemos sim, de a aproveitar.

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