"Do lugar onde se simula a vida e dos muitos papéis”



O início deste capítulo começa por nos dizer que o Papalagui compara sua vida com o mar, “…, pois tal como o mar não pode existir sem água, assim também a vida a Europa não pode existir sem aquele lugar onde se simular a vida, e sem os muitos papéis.”. Esta frase retirada do texto explica mais ou menos o que o Papalagui acha do cinema e dos jornais, no qual ele vai criticar.
Então, o Papalagui começa por referir que o cinema é um sítio grande e escuro, que não se reconhece ninguém lá dentro e que todos estão apertados, sentados numas tábuas estreitas voltadas para uma parede. O barulho que vem debaixo dessa parede parece um chinfrim que tem por objectivo distrair e enfraquecer os sentidos das pessoas, para fazer acreditar que o que se está a ver é real, “e no meio dessa luz surgem uns homens, homens autênticos, semelhantes a verdadeiros Papalaguis, e vestidos como eles. Mexem-se, andam para um lado e para o outro, correm e saltam como se vê fazer por toda a Europa.”, “Se a gente lhes quisesse tocar, logo veria que isso era impossível. Que são feitas de luz, apenas.”. Então conclui que o cinema é uma vida fictícia dentro de uma sala escura.
Para Papalagui, um jornal é “uma esteira de fine tapa branca, dobrada uma vez, depois dividida, dobrada uma vez mais, e coberta, por todos os lados, de minúsculas inscrições”. Papalagui diz que o jornal lhe enche a cabeça todos os dias, pois lêem o que os chefes de tribo de mais alta estirpe dizem dos seus fonos, diz também tudo o que eles têm e fazem durante o dia-a-dia. Diz que os jornais são maus para o nosso espírito, não só porque relatam o que se passa, mas também porque nos dizem o que devemos pensar disto ou daquilo. Para ele, jornais também são uma espécie de máquina, porque são fabricados diariamente novos pensamentos.
Conclui então que Papalagui é “um ser fraco e meio perdido, que preza o que não é real, que perdeu a noção do real, que confunde a luz com a sua imagem e a vida com uma esteira coberta de inscrições.”.


Aitu