"O Grande Espírito pode mais do que a maquina"


Tuiavii de Tiavéa, homem autêntico na sua maneira de sentir e de olhar, ajuda-nos a entender como perdemos o sentido do Homem, num discurso dirigido a sua tribo de Tiavéa.
Neste capítulo, começa por se confrontar com o facto do Papalagui fazer imensas coisas de que a sua tribo nunca será capaz de fazer e compreender mas que também não inveja. Contudo, teme que percam a esperança em si próprios ao admirarem o poder de Papalagui.
Para Tuiavii, tudo o que o Papalagui faz é com o objectivo de conseguir dominar o mar, o céu e a terra e assim, tornar-se semelhante ao Grande Espírito, apropriando-se de todos os seus poderes. Mas o Grande Espírito é maior e mais poderoso do que o Papalagui e as suas maquinas. É o Grande Espírito que domina a morte e a quem obdecem em primeiro lugar todas as forças da natureza. Por isso, afirma que fracos são os que se deixam impressionar com as coisas de que o Papalagui é capaz de fazer pois estas, não têm mais valor do que os seus trabalhos. Até porque, todas as obras fruto da força da maquina do Papalagui têm fragilidades e não possuem o amor que existe em todo o objecto saído das nossas próprias mãos.






"Nenhuma dessas suas máquinas, nenhum desses seus artifícios e feitiçarias foi capaz ainda de prolongar a vida, de tornar uma pessoa mais alegre e feliz"





Talofa

“ O papalagui tornou Deus mais pobre ”

Papalagui tem uma maneira confusa de pensar, está sempre a pensar o que lhe será útil ou não, preocupando-se mais consigo próprio do que com os homens em geral.
“ A palmeira é minha ”, diz Papalagui, mas é só dele porque ela cresce, é lhe útil. “Meu” e “Teu” são palavras que usa bastante, meu é aquilo que só lhe pertence e que ninguém tem o direito de tocar, teu é aquilo que só pertence aos outros. Ladrões, um termo um pouco humilhante, são chamados àqueles que tocam no “meu” do Papalagui, coisas que ele mesmo se apropriou, convencendo-se que foi Deu que lhe deu tudo aquilo e que tudo lhe pertence.
Os “meus” são muito utilizados mas os que têm poucos “meus” não roubam nem magoam a Deus, Papalagui rouba a Deus sem ter mínimo de vergonha, sem ser capaz de agir de outro modo, desrespeita os mandamentos de Deus, cria as suas próprias leis. Com tantos “meus” e “teus” já lhe tiraram quase tudo. Deus manda-lhe inimigos, faz com que haja luta entre os que têm pouco ou nenhum poder e os que dele se apropriam, tirando assim a alegria de viver.
O poder do “meus” faz com que Papalagui não pense nos outros e não vá à procura dos que nada têm, sem amor e respeito pelos irmãos, não partilha os seus “meus” com eles, ignorando Deus e desrespeitando-o também e àquilo que ele nos deus, que é tanta coisa maravilhosa para gozarmos e sermos felizes, todos e não só alguns.
“Quando Deus guarda tudo na sua mão justa não há lutas nem misérias”, papalagui quer crer que “Nada pertence a Deus” “É a ti que pertence tudo quanto consigas abarcar com as tuas próprias mãos”.
Manhoso, egoísta, invejoso, insensato e injusto Papalagui a ti faltam-te estas palavras:

“O que a mim me pertence, pertence-te a ti também”
“Tudo pertence a todos, tudo pertence a Deus”
Laú (meu)

"O Papalagui nunca tem tempo"


No nosso dia-a-dia, ouvimos muitas vezes as palavras "Não tenho tempo". É precisamente disso que o Tuiavii fala neste capítulo: o tempo e a falta deste.
O chefe de tribo de Tiavéa começa por dizer que levamos o tempo muito a sério, que o Papalagui nunca está satisfeito com o tempo que tem e culpa o Espírito Grande por não ter dado mais. E continua dizendo que o homem chega mesmo a blasfemar contra Deus por causa disso.
Faz grande confusão ao Tuiavii o facto do Papalagui "cortar" o tempo em pedaços como no segundo, o minuto e a hora. Também na sua vinda a esta terra "estranha", o chefe repara que o Homem branco anda sempre com um relógio, praticamente desde o nascimento até à velhice. Esteja o relógio ao pescoço, ao pulso ou mesmo "no cimo das mais altas cabanas", mas temos sempre por perto um relógio para nos indicar as horas. Como nós, os Papalaguis, vivemos obcecados com o tempo, sabemos com exactidão quanto tempo estamos na Terra e diz o Tuiavii que isso é um perigo pois foi assim que se determinou quantas luas, em geral, dura a vida dos homens.
O chefe de tribo destaca o facto de que nós, mesmo tendo todo o tempo do mundo, não conseguimos ser felizes porque estamos sempre a pensar que poderíamos estar a fazer algo melhor ou mais produtivo. Diz que nós estragamos o prazer com a ideia de "não tenho tempo para ser feliz". Acusamos mil e uma coisas de nos roubarem o tempo e causamos terror e desgraça onde quer que estejamos só porque perdemos tempo. É por causa disto que corremos atrás do tempo, porque queremos sempre mais e a ideia de o perder é aterrorizador, segundo Tuiavii.
Como última nota o observador deste mundo "estranho" diz que o Papalagui ainda não se apercebeu do que o tempo é, por isso é que o maltrata, gasta e estraga. Na terra do chefe de tribo, eles não se queixam do tempo. Eles amam-no e acolhem-no. Nunca correm atrás dele e não o cortam em pedaços. Por isso é que eles são felizes, não se preocupem com o tempo, ao contrário do Papalagui.


Agagá